A análise elaborada pela corporação Good Game, adquirida pelo Botafogo, não é suficiente como evidência singular de fraude em partidas. Essa é a dedução de uma divisão do Conselho da Europa que investiga estratégias para detectar embates esportivos com desfechos arranjados. A instituição de garantia de direitos no continente, o Conselho da Europa, instaurou o Grupo de Copenhague para averiguar ações de prevenção à corrupção de resultados esportivos. Conta com a parceria da UEFA. Essa equipe realizou estudos de 2017 a 2019 sobre as práticas de três companhias especializadas na detecção de manipulação em avaliações de competições: Footvision, Good Game e StatsPerform. John Textor, controlador do Botafogo, recorreu à Good Game para investigar confrontos do Campeonato Brasileiro. Segundo seu relatório, o magnata americano alegou que a equipe verde e branca tirou vantagens indevidas de dois embates do Palmeiras nos certames de 2022 e 2023. Ele submeteu o informe à Comissão Parlamentar de Inquérito das Fraudes em Jogos e Apostas no Senado e à Delegacia de Polícia Civil do Rio de Janeiro. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva também prossegue analisando a queixa de Textor, embasando-se no relatório. O Conselho da Europa veiculou o estudo em setembro de 2023, antecedendo as imputações expostas por Textor. Consequentemente, a apuração incidiu sobre competições de 2017 a 2019, transitando por etapas adicionais antes da conclusão. Em um pronunciamento, o Conselho da Europa mencionou em relação aos trabalhos das três organizações, Footvision, Good Game e StatsPerform: “A avaliação de performance esportiva pode contribuir no enfrentamento da fraude, assistindo na identificação de jogadores sobre suspeita. É imprescindível frisar que as avaliações vigentes não atuam como provas autônomas, porém podem fortalecer investigações extensivas e substanciais, a exemplo de atividades de apostas anômalas.” A entidade expressou que houve consentimento geral de que investigações futuras exigirão o desenvolvimento de estratégias baseadas em dados concretos e empíricos para adquirir resultados “subjetivos”. No estudo, a técnica da Good Game para avaliação de fraudes em partidas objetiva o exame de jogadores e árbitros em registros audiovisuais sob aspectos físicos, biomecânicos e fisiológicos. Nesse sentido, visa identificar irregularidades nestes indivíduos ou árbitros. Isto é, um algoritmo mensura a quantidade de imperfeições por indivíduo e a totalidade de jogadores envolvidos. A partir disso, a disputa é categorizada como normal, suspeita ou viciada. Assim, para encaixar-se na última classificação, deve existir um excedente de jogadores com alguma falha ou um volume menor de jogadores com diversas falhas. Conforme Textor, cinco atletas do São Paulo teriam viciado a partida perdida pelo Palmeiras. Da mesma forma, ele fez alegações idênticas sobre quatro jogadores do Fortaleza, no embate contra o Alviverde. Todavia, ele não revelou nomes ou detalhou como comprovou tal afirmação. No contexto do estudo, o Grupo de Copenhague reitera: “A avaliação de desempenho pode auxiliar autoridades judiciárias e outros especialistas em integridade do esporte a rastrear e comprovar de forma mais efetiva a fraude em torneios. Esses achados podem endossar outros dados analíticos ou factuais para alcançar o grau de prova exigido. Em quaisquer circunstâncias, poderiam constituir um ponto de partida relevante para uma sondagem.” Em resumo, para o Conselho da Europa, o informe da Good Game precisa ser acompanhado de outros elementos para ser considerado como prova de fraude em partidas, caso contrário, apenas serve como base para uma indagação, não como sustentação para uma acusação formal.