Estudos recentes mostram que, por mais atrativas que sejam as promessas de vitória nas apostas online, a matemática e a estatística por trás dos sites de apostas são construídas de forma a garantir lucro para as casas e perda para a maioria dos jogadores. Segundo a Folha de S.Paulo, os sites de apostas, chamados de “bets”, devolvem cerca de 93% do valor apostado ao conjunto de jogadores, o que parece vantajoso, mas revela uma taxa implícita de 7% que alimenta o lucro da casa. Essa taxa é conhecida como retorno ao jogador (RTP), e mesmo parecendo pequena, faz uma diferença significativa no longo prazo, criando um sistema que inevitavelmente beneficia as bets.
Como a Lei dos Grandes Números favorece as casas de apostas
Um dos conceitos fundamentais que permite às bets garantir seus lucros é a Lei dos Grandes Números, um princípio estatístico que afirma que, conforme o número de apostas aumenta, os resultados reais começam a se aproximar dos resultados esperados pela média. Esse fenômeno matemático favorece as bets, que têm recursos praticamente infinitos para lidar com a variabilidade dos resultados.
Enquanto um jogador individual geralmente possui um orçamento limitado para apostas, a casa de apostas pode esperar que a quantidade total de apostas compense eventuais perdas. Com o tempo e o volume de apostas, as bets conseguem garantir que o percentual de retorno ao jogador seja mantido em cerca de 93%, enquanto a margem de 7% permanece intacta. Marcelo Viana, diretor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), explica que, para o jogador, o resultado é limitado pelo próprio orçamento, enquanto as bets aguardam os números se ajustarem para obter o lucro estimado.
Esse comportamento pode ser comparado a um jogo de cara ou coroa. Em poucas jogadas, é possível que o resultado não reflita a proporção esperada de 50% para cada lado. No entanto, conforme o número de jogadas aumenta para milhares, a distribuição de caras e coroas começa a se aproximar de uma média de 50%, refletindo o comportamento previsto pela estatística.
Margem das bets: como a matemática assegura o lucro
Outro ponto que sustenta o lucro das bets é a forma como elas calculam as cotações e probabilidades dos eventos, garantindo uma margem de lucro mesmo nas apostas mais equilibradas. Por exemplo, se em uma partida as chances reais de vitória de um time são 50%, a bet pode oferecer uma cotação que paga um pouco menos do que o dobro ao vencedor, garantindo uma pequena margem de lucro em cada aposta.
Em um jogo com três possibilidades (vitória, derrota ou empate), as bets ajustam as cotações para que a soma das probabilidades supere 100%. Esse excesso, chamado de margem da casa, representa o lucro projetado pela bet. Suponha que as probabilidades reais de um evento sejam: 20% de vitória do time A, 30% de empate e 50% de vitória do time B. Em um cálculo sem margem, as cotações seriam de 5 para a vitória de A (1/20%), 3,3 para o empate (1/30%) e 2 para a vitória de B (1/50%).
No entanto, as bets ajustam essas cotações para multiplicadores menores, como 4,9, 3,2 e 1,95, respectivamente, mantendo uma margem embutida. Essa diferença garante que, mesmo que o resultado seja favorável para os apostadores, a casa ainda tenha uma margem de receita sobre o volume de apostas, permitindo a manutenção do lucro no longo prazo.
A influência do retorno ao jogador (RTP) nos resultados
A taxa de retorno ao jogador (RTP) é um conceito central na matemática das bets. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR) estima que o RTP das bets seja em torno de 93%, enquanto o Banco Central sugere um percentual um pouco menor, de cerca de 85%. Esse RTP representa o valor devolvido aos jogadores ao longo de muitas apostas, mas a porcentagem que não é devolvida (entre 7% e 15%) fica com a casa. Essa taxa faz uma enorme diferença para a rentabilidade das bets, especialmente quando se considera o grande volume de apostas.
Enquanto jogadores casuais podem não perceber essa diferença no curto prazo, apostadores frequentes acabam sentindo os efeitos dessa taxa. Se os jogadores continuarem a reinvestir seus ganhos, inevitavelmente perderão uma parte do valor a cada rodada. Com o tempo, a casa de apostas acumula uma porcentagem de cada aposta realizada, criando uma acumulação progressiva de receita que sustenta o lucro da bet.
Por que vencer a matemática das bets é quase impossível
Para vencer consistentemente nas bets, um jogador precisaria desenvolver um modelo estatístico mais avançado e preciso do que o utilizado pelas próprias casas de apostas. Alexsandro Bezerra Cavalcanti, professor de estatística da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), afirma que o apostador precisaria entender suas chances de ganhar e perder melhor do que a bet, além de ser capaz de analisar uma quantidade menor de jogos com alto nível de detalhe.
A complexidade desse desafio é tamanha que pouquíssimos jogadores conseguem superá-lo, e mesmo aqueles que conseguem são frequentemente bloqueados pelas bets, que consideram a atividade suspeita. Cavalcanti destaca que as bets ajustam suas cotações com base em variáveis externas, como a presença de jogadores reservas ou mudanças climáticas, tornando ainda mais difícil para o apostador comum criar um modelo de previsão confiável.
Caça-níqueis online: ainda menos chance para o jogador
Nos jogos de caça-níqueis online, a vantagem das bets é ainda maior. Ao contrário das apostas esportivas, onde é possível estimar chances com base em dados, os caça-níqueis são inteiramente controlados por algoritmos programados para garantir uma taxa de retorno específica. Esses jogos não dependem de eventos externos e têm RTPs previamente estabelecidos, o que coloca o jogador em uma desvantagem clara desde o início.
Por exemplo, no popular jogo do tigrinho, ou Fortune Tiger, o RTP anunciado é de 96,81%, o que significa uma margem de 3,19% para a casa. Embora pareça uma taxa pequena, o efeito cumulativo dessa porcentagem garante um fluxo constante de receita para a bet. Além disso, o prêmio máximo desse jogo, de 2.500 vezes o valor apostado, ocorre em uma chance de uma em milhões de apostas, mostrando que o lucro do jogador é quase impossível de alcançar.
A psicologia por trás das apostas e os vieses cognitivos
Além das probabilidades matemáticas desfavoráveis, a psicologia das apostas desempenha um papel significativo na lucratividade das bets. Estudos demonstram que os jogadores tendem a supervalorizar os ganhos e minimizar as perdas, o que os leva a acreditar que podem vencer a casa no longo prazo. Esse fenômeno é conhecido como viés de magnitude, onde o jogador subestima a importância das perdas contínuas e se concentra nos poucos momentos de vitória.
Marcia Spetch, professora de psicologia e pesquisadora na Universidade de Alberta, explica que o mercado de apostas é estruturado para explorar esses vieses, incentivando o jogador a continuar apostando.
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