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Publicidade de Casas de Apostas para Crianças Leva Clubes Cariocas a Responderem à Defensoria

Casas de Apostas

Casas de Apostas são retiradas de vínculo com grandes clubes (Fonte: Reprodução Google)

A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ) solicitou aos quatro grandes clubes de futebol cariocas — Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense — que retirassem a publicidade de casas de apostas estampada em produtos infantis. Essa solicitação, realizada pela Coordenação de Infância e Juventude (CoInfância) e pelo Núcleo de Defesa do Consumidor (Nudecon), é embasada nas legislações brasileiras que regulam a publicidade voltada ao público infantil e na recente Portaria 1.231, de julho de 2024, que proíbe a exposição de logomarcas de apostas esportivas em artigos destinados a menores de 18 anos.

Entretanto, até o momento, os clubes não responderam ao pedido dentro do prazo estipulado de 15 dias, que expirou em 16 de outubro. A DPRJ informou que reiterará a solicitação e espera um retorno formal dos clubes, especialmente quanto à retirada de publicidades de apostas em artigos infantis e em competições de categorias de base, que envolvem jogadores menores de idade.

A Legislação sobre Publicidade Infantil e Apostas

A publicidade infantil no Brasil é regulada pela Lei nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), pela Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) e pela Resolução nº 163/2014 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). Essas regulamentações proíbem práticas de publicidade que visem diretamente ao público infantil, especialmente em produtos voltados para crianças, como roupas, brinquedos e acessórios.

No contexto das apostas esportivas, a Portaria 1.231 do Ministério da Fazenda reforça essa legislação. A norma estabelece que as casas de apostas, que se tornaram patrocinadoras importantes no cenário esportivo brasileiro, não podem exibir suas logomarcas em produtos voltados para menores de 18 anos. Esta regulamentação tem como objetivo proteger o público infantil da exposição precoce a temas de jogos de azar, que podem afetar negativamente o comportamento e o desenvolvimento das crianças.

No entanto, as recentes denúncias recebidas pela Defensoria Pública indicam que as logomarcas de apostas esportivas estão sendo usadas em produtos infantis de clubes de futebol, o que viola essa regulamentação e pode resultar em sanções.

Os Clubes Cariocas e os Patrocínios de Casas de Apostas

Atualmente, Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense têm casas de apostas como seus principais patrocinadores. Essas marcas estampam suas logomarcas de forma destacada nos uniformes dos clubes, o que tem gerado preocupação, principalmente devido à grande popularidade dos times e à ampla distribuição de seus produtos oficiais. A questão se torna ainda mais crítica quando esses produtos são direcionados ao público infantil, expondo crianças a marcas associadas a apostas.

Os contratos de patrocínio com Casas de Apostas esportivas geraram uma receita significativa para os clubes de futebol no Brasil, especialmente após a regulamentação parcial das apostas de quota fixa. O segmento cresceu rapidamente e tornou-se uma fonte de receita vital para os times, muitos dos quais enfrentam dificuldades financeiras. No entanto, a exposição a esse tipo de publicidade em produtos infantis levanta questões éticas e legais sobre os limites da influência do marketing de apostas no cotidiano das crianças.

O Impacto Social das Apostas Esportivas no Brasil

Nos últimos anos, as apostas esportivas no Brasil cresceram exponencialmente, atingindo milhões de usuários. Um levantamento realizado pelo Instituto Locomotiva revelou que, apenas nos primeiros sete meses de 2024, mais de 25 milhões de brasileiros começaram a apostar em plataformas eletrônicas, totalizando cerca de 52 milhões de apostadores nos últimos cinco anos. Apesar de ser uma atividade lucrativa para os clubes e Casas de Apostas, o impacto dessa prática sobre as famílias de baixa renda vem sendo amplamente debatido.

Estudos apontam que as classes D e E, em particular, estão mais vulneráveis ao impacto financeiro das apostas, uma vez que o orçamento familiar já é comprometido. O Banco Central do Brasil informou que, em agosto de 2024, cerca de R$ 3 bilhões do programa Bolsa Família foram gastos em plataformas de apostas por meio do sistema Pix, revelando a extensão do problema.

Além das preocupações financeiras, há um crescente debate sobre os impactos comportamentais das apostas esportivas, especialmente entre os jovens. O acesso fácil a essas plataformas e a popularidade dos clubes patrocinados por casas de apostas criam um ambiente no qual o jogo é normalizado, potencialmente incentivando comportamentos de risco, como o vício em jogos.

A Repercussão das Casas de Apostas nas Categorias de Base

Outro aspecto relevante da solicitação da Defensoria Pública é a recomendação para que os clubes evitem a exposição de marcas de apostas esportivas em competições que envolvem categorias de base, ou seja, equipes com jogadores menores de idade. Isso ocorre porque, embora os contratos de patrocínio sejam vantajosos para os clubes, eles podem criar uma imagem contraditória ao promover apostas em eventos que envolvem jovens atletas.

Os clubes de futebol, em sua maioria, investem no desenvolvimento de talentos por meio das categorias de base, que são um dos principais caminhos para a formação de novos jogadores. No entanto, permitir que esses jovens atletas sejam associados a Casas de Apostas pode afetar negativamente sua percepção do esporte e da ética esportiva.

Ação da Defensoria Pública e Próximos Passos

Diante do silêncio dos clubes em relação à solicitação inicial, a Defensoria Pública reiterará o pedido, insistindo para que as instituições esportivas se abstenham de comercializar produtos infantis com publicidade de casas de apostas e garantam que as competições de base sejam livres de qualquer tipo de promoção ligada a apostas esportivas.

Além disso, a DPRJ pode recorrer a outras medidas judiciais, caso os clubes continuem sem responder ou agir em conformidade com a legislação. A ação da Defensoria visa não apenas proteger as crianças da exposição precoce ao marketing de apostas, mas também assegurar que os clubes cumpram as regulamentações vigentes e atuem de forma responsável em suas estratégias de marketing e patrocínio.

A questão pode gerar repercussões significativas tanto para os clubes quanto para o setor de apostas esportivas no Brasil, especialmente em um momento em que o governo federal está intensificando os esforços para regulamentar e controlar o mercado de apostas, retirando sites ilegais do ar e impondo novas regras de pagamento.

Conclusão

A crescente presença das casas de apostas no futebol brasileiro trouxe uma série de benefícios financeiros para os clubes, mas também levantou preocupações éticas e legais, especialmente quando o público infantil está envolvido. A solicitação da Defensoria Pública para que os clubes cariocas removam a publicidade de apostas de seus produtos infantis é uma medida importante para proteger os direitos das crianças e garantir que os clubes cumpram a legislação vigente.

À medida que o mercado de apostas esportivas no Brasil continua a se expandir, é essencial que as Casas de Apostas e os clubes ajam com responsabilidade, garantindo que sua publicidade não afete negativamente as crianças e os adolescentes. A resposta dos clubes cariocas à Defensoria Pública será fundamental para definir os próximos passos dessa discussão e estabelecer um padrão mais seguro e ético para o futuro do marketing esportivo no país.

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