Apostador Brasileiro

Campeonatos Estaduais: teremos mudanças em 2024

Campeonato Estadual

É concebível pensar em uma estrutura na qual o “Campeonato Estadual” seja separado de uma “Série E” jogada em nível estadual e diretamente relacionada à hierarquia do futebol nacional

Longe de sugerir a eliminação desses campeonatos (uma ideia impraticável), o texto a seguir apresentará algumas propostas para abordar o que é visto como o principal desafio do futebol brasileiro.

Afinal, a continuidade dos campeonatos estaduais “como estão” é justificada por motivos que não parecem ser muito lógicos, pelo menos do ponto de vista financeiro (viabilidade), esportivo (competitividade) ou popular (atratividade).

A lógica que mantém os campeonatos estaduais “como estão” está relacionada à esfera política das federações que os organizam. O blog já publicou um texto recente intitulado “Por que os estaduais estão prejudicando os clubes tradicionais”, que pode ser útil para contextualizar a leitura subsequente.

Essa proposta parte do pressuposto de que um torneio com apenas 3 meses de duração, que leva a maioria dos clubes a suspender suas atividades nos outros 9 meses, não pode ser considerado “profissional”. Portanto, antes de discutir a necessidade de uma “Série E”, é importante compreender como o futebol brasileiro tem funcionado ao longo do tempo.

Um formato opressivo

Embora se debata o Campeonato Estadual sob a perspectiva dos clubes grandes, preocupados com o inchaço do calendário, a verdadeira questão desse modelo atual é que ele relega a maioria dos clubes à inexistência durante a maior parte do ano. Enquanto alguns sofrem com um “excesso de jogos”, a maioria enfrenta escassez, inatividade e precariedade.

Para compreender esse problema, é importante analisar o panorama do futebol brasileiro, que mantém um desenho estável desde a criação da Série D em 2009.

Em 2024, nove estados não terão clubes representando-os nas três principais divisões nacionais, enquanto seis estados terão apenas um representante em uma dessas divisões. Outras quatro federações terão dois participantes, mas também é um número limitado.

Dependendo do número de participantes nos campeonatos estaduais (que varia de 8 a 12 clubes) e do número de vagas que a federação tem na Série D (que varia de 1 a 4), muitos clubes acabam ficando inativos assim que termina o campeonato estadual. Exceto nos casos em que existem competições secundárias no segundo semestre, que também são de curta duração.

Essa análise nos mostra quantos clubes brasileiros limitam suas temporadas a apenas 3 meses, suspensão suas atividades enquanto aguardam o retorno de alguns poucos clubes co-irmãos dos campeonatos nacionais (mesmo que seja a breve Série D).

Em diversos estados, o número de clubes “sem datas na elite” já é significativo o suficiente para compor um campeonato de maior duração. Essa quantidade aumenta consideravelmente quando adicionamos os clubes das divisões inferiores dos estaduais, muitos dos quais nem precisariam existir.

É importante notar que vários países europeus realizam seus campeonatos nacionais com um número reduzido de clubes, como Grécia (14), Suíça (12), Áustria (12) e Dinamarca (12). Eles utilizam regulamentos criativos para garantir um maior número de partidas ao longo da temporada.

A ideia de criar uma “Série E” dentro de cada estado brasileiro parece interessante. Em vez de concentrar todo o calendário desses clubes nos campeonatos estaduais de curta duração, seria possível reunir todos os outros clubes “sem divisão” em uma competição única e mais longa, posicionada imediatamente abaixo da Série D.

Nos estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, onde existem poucos clubes inscritos nas divisões principais e secundárias dos campeonatos estaduais, a criação de uma “Série E” poderia ser uma solução viável para envolver mais clubes e estender a temporada dessas equipes.

A criação de uma “Série E” dentro de cada estado brasileiro, com uma competição mais longa que dure cerca de 10 meses e utilize até 43 datas, poderia proporcionar uma temporada mais prolongada e ativa para dezenas de clubes que atualmente têm apenas 3 meses de atividade nos campeonatos estaduais.

A redução do “Campeonato Estadual” para apenas 8 datas, incluindo os clubes das Séries A, B, C e D, poderia aliviar o calendário dos clubes e permitir que se concentrem em competições continentais e nacionais de maior importância. Enquanto isso, a “Série E” dentro de cada estado proporcionaria uma temporada mais longa e ativa para outros clubes.

A ideia de uma “Série F” em estados com muitos clubes, como São Paulo, ou a criação de copas secundárias entre clubes da mesma divisão, ou até mesmo fases preliminares mais longas para o “Campeonato Estadual”, poderiam oferecer alternativas para garantir que um maior número de clubes tenha uma temporada mais ativa e com mais jogos ao longo do ano.

Já Pensou em um Estadual Diferente?

Apenas oito estados têm quatro ou mais times participando das séries nacionais, o que evidencia a viabilidade de formar os quadros desses potenciais novos campeonatos estaduais.

Tomemos como exemplo o “Novo Campeonato Catarinense” no cenário de 2024, onde o Criciúma disputa a Série A, o Avaí, o Brusque e a Chapecoense estão na Série B, o Figueirense está na Série C e outros três clubes estão na Série D (podendo ser menos, com uma reformulação desta divisão).

Neste formato simplificado de ida e volta, um time das Séries A, B ou C precisaria disputar no máximo 6 jogos (se chegar à final). Isso sugere que é viável criar formatos mais elaborados, inclusive com a inclusão de clássicos, desde que sejam respeitadas as 8 datas disponíveis.

O Campeonato Carioca, que conta com ainda menos representantes nas principais divisões, teria uma montagem ainda mais simplificada, possibilitando a participação de até quatro clubes da Série E. Com um número reduzido de participantes, haveria margem para elaborar um regulamento que promovesse mais confrontos entre os clubes de destaque, algo pelo qual a FERJ é conhecida.

Com 13 times presentes nas quatro primeiras divisões, o Paulistão seria o único que necessitaria de uma fase preliminar mais extensa para definir os clubes da “Série E” antes de enfrentarem as equipes principais.

Em todas as outras unidades federativas, a formação do “Campeonato Estadual” ocorreria de maneira praticamente automática. Isso, de certa forma, inverteria uma exigência que já está em vigor.

Atualmente, as equipes que desejam participar da Copa do Brasil ou da Série D são obrigadas a atravessar o breve torneio estadual. Muitas vezes, clubes optam por abandonar o torneio nacional relacionado à pirâmide nacional, a Série D, focando principalmente nos ganhos financeiros da primeira fase da Copa do Brasil (que envolve muito dinheiro e poucos jogos).

Se houver uma “Série E” separada de um “Campeonato Estadual”, a participação no primeiro será um requisito para ter a oportunidade de enfrentar os clubes de destaque no segundo. Quanto mais alto o status do clube, maior será a garantia de competir no “novo estadual” e enfrentar os clubes grandes. A competição na “Série E” se torna uma exigência inegociável.

Essa abordagem também abriria a porta para uma reformulação da Copa do Brasil. Sem a necessidade de “valorizar os estaduais”, seria possível oferecer vagas para todos os clubes das Séries A, B, C e D. Além disso, poderiam ser criadas fases preliminares onde os clubes da Série E competiriam entre si, selecionando os melhores. Nesse cenário, seria importante desenvolver um formato que garantisse a representatividade regional, como acontece atualmente.

Esse é um modelo que os principais países europeus encontraram para garantir que suas copas nacionais se mantivessem verdadeiramente “democráticas”, algo que a Copa do Brasil tem deixado de ser. Não é raro ver grandes clubes europeus enfrentarem clubes categoricamente amadores nas copas, gerando histórias saborosas – o que nos leva a outra questão fundamental.

Vamos aguardar e acompanhar os próximos passos.

Sair da versão mobile