Um estudo do banco Santander revelou que as apostas online podem reduzir o PIB do Brasil em até 0,3%, com projeções de queda no consumo e aumento no endividamento familiar. Com um crescimento de 74% no mercado de apostas entre 2018 e 2023, o impacto econômico das plataformas de apostas desperta preocupações entre especialistas e órgãos financeiros, que veem nesse fenômeno um risco crescente para a economia e para a saúde financeira das famílias brasileiras.
Crescimento do Mercado de Apostas no Brasil
Desde 2018, o mercado de apostas online no Brasil vem crescendo exponencialmente, com um aumento médio anual de 74%, segundo dados do Santander. Esse crescimento supera, em muito, a média global, que é de 19% ao ano. Em 2023, a receita gerada por essas plataformas no país alcançou R$ 8,96 bilhões, colocando o Brasil entre os países com maior potencial de crescimento nesse setor.
As projeções indicam que o mercado de apostas deve continuar em expansão, com uma taxa anual de 16,9% entre 2024 e 2029. Isso é mais que o dobro da média mundial, que está em torno de 7,8% no mesmo período. Contudo, a participação do Brasil no mercado global ainda representa menos de 2%, o que indica um potencial de expansão contínua para os próximos anos.
Impacto no PIB e Consumo Familiar
O impacto econômico das apostas online vai além do simples volume de receita gerado. O relatório do Santander aponta que o efeito líquido das apostas sobre o PIB brasileiro varia entre 0,2% e 0,3%, considerando os gastos totais menos os prêmios pagos aos apostadores. Esse percentual representa uma perda significativa para a economia brasileira, especialmente considerando o tamanho do PIB, que está projetado em aproximadamente R$ 11,5 trilhões em 2024.
No consumo das famílias, os impactos também são preocupantes. As apostas online representaram entre 0,3% e 0,5% do consumo total das famílias em 2023, com uma tendência de aumento entre as classes mais baixas, como C, D e E. Entre essas classes, o endividamento gerado pelo consumo em plataformas de apostas chega a 1,38%, enquanto nas classes A e B esse percentual é significativamente menor, cerca de 0,36%.
Consequências para Setores da Economia
O estudo do Santander destacou ainda os setores da economia que são mais vulneráveis ao aumento dos gastos em apostas online. Entre os mais impactados estão o setor de varejo e de bens de consumo, especialmente em segmentos de vestuário, calçados e lazer. Esses setores são diretamente afetados, pois muitos consumidores acabam redirecionando recursos para apostas, deixando de gastar em bens e serviços que antes faziam parte do seu consumo cotidiano.
Outro setor diretamente impactado é o de alimentos, onde os consumidores, pressionados pelo endividamento com apostas, tornam-se mais sensíveis ao preço, optando por produtos de menor valor agregado. Essa mudança no padrão de consumo afeta as vendas de itens alimentícios mais caros, refletindo diretamente no faturamento das empresas do setor.
O setor educacional também sente os impactos dessa dinâmica. Com uma demanda menor por educação a distância – modalidade escolhida por uma parcela significativa das classes C, D e E – as instituições de ensino enfrentam uma queda nas matrículas, especialmente no ensino superior. Segundo dados da Educa Insights, cerca de 35% dos estudantes entrevistados desistiram de iniciar um curso superior em 2024 devido aos gastos com apostas.
Saúde e Custo Social das Apostas
O aumento das apostas online não impacta apenas a economia, mas também a saúde e o bem-estar das pessoas. Com o crescimento desse mercado, a demanda por tratamentos contra a dependência em jogos de azar tem crescido significativamente, o que aumenta a pressão sobre o sistema de saúde pública e privada. Instituições de saúde reportam uma elevação na busca por terapias para tratar vícios relacionados ao jogo e problemas como depressão, ansiedade e endividamento.
As instituições financeiras, por sua vez, enfrentam desafios relacionados ao aumento do endividamento da população de baixa renda. A proibição do uso de cartões de crédito para apostas, uma medida implementada recentemente, ainda não foi suficiente para conter o problema, pois muitos apostadores recorrem a empréstimos pessoais e ao Pix para continuar financiando os gastos em plataformas de jogos.
Perspectivas da Regulamentação para 2025
A partir de janeiro de 2025, o mercado de apostas online no Brasil será submetido a um novo marco regulatório, que estabelece normas mais rígidas para o setor. Entre as mudanças, as empresas de apostas terão que pagar uma taxa de licenciamento de R$ 30 milhões e um imposto de 12% sobre a receita bruta. Além disso, os prêmios acima de R$ 2.112,00 serão tributados em 15%, gerando uma nova fonte de arrecadação para o governo.
Essa regulamentação busca controlar o crescimento desenfreado do mercado e reduzir os impactos negativos das apostas online na economia. Estima-se que a contribuição fiscal do setor chegue a R$ 3,4 bilhões em 2024 e, com o aumento das taxas e tributos, possa alcançar entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões em 2025.
Efeitos no Endividamento e na Pobreza
Estudos apontam que a alta participação das classes mais baixas no mercado de apostas aumenta o risco de endividamento e pobreza. A CNC (Confederação Nacional do Comércio) identificou que cerca de 1,3 milhão de pessoas enfrentam dificuldades financeiras devido aos gastos com apostas, e que muitos brasileiros estão abrindo mão de bens e serviços essenciais para apostar.
Os gastos excessivos com apostas refletem no aumento de inadimplência, especialmente entre a população de baixa renda, que já enfrenta dificuldades para quitar suas dívidas. Esse endividamento compromete o poder de compra e a capacidade de investimento da população, dificultando ainda mais a recuperação econômica e o bem-estar social.
Perdas Financeiras do Brasil com Apostas
O estudo do Santander também apresentou uma estimativa das perdas financeiras do Brasil devido aos sites de apostas, que pode variar entre R$ 24,7 bilhões e R$ 35,9 bilhões em 2024. Essa perda, que representa aproximadamente 0,3% do PIB, é calculada com base na diferença entre o total gasto pelos brasileiros nas plataformas e o valor retornado em prêmios.
Essas perdas são preocupantes não apenas pelo impacto direto na economia, mas também pelos efeitos indiretos que geram sobre a renda e o consumo das famílias. A diferença entre o valor apostado e o que é devolvido em prêmios resulta em uma transferência de riqueza para o exterior, impactando negativamente a economia doméstica.
Apostas e Incertezas para o Futuro
O cenário atual revela a necessidade de medidas para conter os impactos econômicos das apostas online. A introdução do novo marco regulatório em 2025 representa um passo importante, mas especialistas defendem que será necessário ir além da tributação e do licenciamento para lidar com as consequências financeiras e sociais do setor.
Educar a população sobre os riscos do endividamento e promover campanhas de conscientização pode ser uma das estratégias para mitigar o problema. Além disso, a criação de políticas de apoio às vítimas de dependência em jogos de azar e o monitoramento contínuo das atividades das plataformas são aspectos fundamentais para garantir uma regulação eficiente.
Conclusão
O crescimento acelerado do mercado de apostas online no Brasil representa tanto oportunidades quanto desafios. Embora o setor tenha potencial de arrecadação significativa para o governo, os custos sociais e econômicos não podem ser ignorados. Os impactos no PIB, no consumo das famílias e na saúde pública mostram que a regulamentação e o controle do mercado são essenciais para mitigar riscos e proteger a economia brasileira.
Com a implementação do novo marco regulatório, o Brasil se prepara para enfrentar os desafios trazidos pelo aumento das apostas online, buscando um equilíbrio entre o crescimento do setor e a preservação do bem-estar econômico e social da população.
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