A ausência de políticas eficazes que integrem os mais vulneráveis no mercado de trabalho e a falta de uma regulamentação adequada das apostas esportivas têm trazido sérios prejuízos à sociedade brasileira. A economista Laura Müller Machado, professora da USP, destacou esses desafios em um artigo recente. De acordo com Machado, o programa Bolsa Família, em vez de incentivar a autonomia econômica, está desestimulando os beneficiários a buscar oportunidades de trabalho, criando uma armadilha da dependência que precisa ser revista.
Desenho Inadequado do Bolsa Família
Um dos problemas apontados por Machado é a estrutura atual do Bolsa Família, que não possui uma regra de transição gradual para aqueles que conseguem emprego. Por exemplo, se um dos membros de uma família beneficiária aceita um trabalho que paga um salário mínimo e cinquenta centavos, toda a assistência do Bolsa Família é cortada imediatamente. Isso cria um grande desincentivo para os beneficiários aceitarem trabalhos formais, já que perderiam o suporte financeiro sem garantias de estabilidade.
O ideal seria que houvesse um mecanismo de transição que garantisse segurança para as famílias que desejam se inserir no mercado de trabalho. Essa regra de saída gradual permitiria que o apoio fosse retirado de forma progressiva, enquanto a família se ajusta à nova realidade financeira. Além disso, seria importante fornecer qualificações profissionais, orientação sobre como ter sucesso no trabalho e acesso a redes de microcrédito que ajudassem na consolidação da autonomia financeira.
Laura Machado exemplificou isso com a história de um motorista que, após ter problemas financeiros, precisou vender seu caminhão e passou a depender do Bolsa Família. Embora o benefício tenha ajudado a aliviar a pobreza, não houve apoio do governo para ajudá-lo a voltar ao mercado de trabalho. Se houvesse um programa de requalificação ou de financiamento para que ele pudesse adquirir outro veículo ou se tornar motorista de aplicativo, talvez sua situação tivesse sido diferente.
Falta de Apoio para a Ascensão Social
A crítica central é que, enquanto o Bolsa Família fornece alívio temporário da pobreza, ele não oferece uma solução de longo prazo para a ascensão social. Machado argumenta que o país carece de uma rede de apoio robusta que capacite os mais vulneráveis, ajudando-os a se posicionar melhor no mercado de trabalho. Sem essa infraestrutura, a taxa de ocupação entre os 10% mais pobres despencou de 54% em 2001 para apenas 24% em 2023, uma queda alarmante.
Além disso, o cenário atual não inclui programas que ensinem os trabalhadores a valorizarem suas habilidades ou a melhorarem suas oportunidades de negócios. Políticas que ajudem as pessoas a aumentar o valor de seus produtos ou serviços e que incentivem a comercialização seriam passos importantes para mudar esse quadro. Sem isso, continuamos apenas transferindo renda, sem construir uma base sustentável para o futuro.
A Contradição das Apostas e Publicidade
Paralelamente, o país tem um histórico de combate a práticas prejudiciais como o cigarro, mas falha em aplicar a mesma lógica às apostas esportivas. A publicidade de jogos de azar no Brasil é massiva, com propagandas que muitas vezes retratam as apostas como um caminho para o sucesso financeiro. Ao contrário das embalagens de cigarro, que mostram imagens de advertência sobre os riscos à saúde, as apostas ainda são promovidas sem alertas adequados sobre os possíveis danos financeiros e emocionais.
No entanto, a sociedade brasileira tem começado a reagir a essa falta de regulação. O Supremo Tribunal Federal (STF) já começou a impor medidas para proteger os consumidores, especialmente aqueles que podem ser mais vulneráveis. Como mencionado em artigos recentes, decisões judiciais foram tomadas para garantir que programas de assistência social, como o Bolsa Família, não sejam usados em apostas. Essas ações são essenciais para evitar que grupos vulneráveis sejam explorados por práticas de marketing predatórias.
O Desejo de Ascensão e o Perigo das Bets
Machado também levanta um ponto importante: o desejo dos mais vulneráveis de superar sua situação econômica pode ser o que os atrai para o mundo das apostas. Sem acesso a oportunidades de lazer ou a programas que incentivem uma ascensão social verdadeira, muitos veem as apostas como uma chance de mudar de vida. Contudo, sem regulação, essas esperanças frequentemente resultam em decepções e dificuldades financeiras.
O que seria mais eficaz, segundo Machado, é uma política que clarifique quais são os caminhos reais para o crescimento econômico e a ascensão social no Brasil. Isso inclui uma regulação adequada do setor de apostas, que limite a propaganda e ofereça uma mensagem honesta sobre as reais chances de sucesso. A economia da esperança não deve ser baseada em promessas vazias, mas em oportunidades reais e viáveis.
Uma Comparação com Outras Iniciativas
É interessante comparar essa situação com iniciativas de outros países. Na China, por exemplo, o mercado de apostas também passou por uma onda de crescimento, como discutido em um artigo sobre as blind boxes e transmissões ao vivo com jogos de azar. Lá, a falta de regulação inicial também trouxe problemas, mas as autoridades começaram a impor regras mais rígidas para proteger os consumidores. O Brasil poderia aprender com essas experiências internacionais e adotar medidas que equilibrem o crescimento econômico com a proteção social.
Conclusão
Se uma prática é prejudicial para os mais vulneráveis, ela acaba sendo ruim para toda a sociedade. A falta de políticas eficazes que ajudem os beneficiários do Bolsa Família a se integrarem no mercado de trabalho, aliada à ausência de uma regulação adequada das apostas, cria um ciclo de dependência e risco. É fundamental que o Brasil invista em estratégias que não apenas aliviem a pobreza, mas que também promovam a ascensão social segura.
A regulamentação das apostas deve ser uma prioridade, assim como o fortalecimento dos programas de apoio ao trabalhador. Somente assim será possível criar um ambiente onde todos possam ter oportunidades reais de sucesso, sem precisar recorrer a soluções arriscadas como as apostas. Afinal, proteger os vulneráveis é proteger o futuro de toda a sociedade.
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